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segunda-feira, 8 de julho de 2013

QBA - Qualitative Behaviour Assessment


Não são muitos dos cientistas que podem se gabar de terem estabelecido um método próprio para a sua área de estudo. Uma destas, da área da etologia aplicada e bem-estar animal, vai estar em Lisboa dia 18 de Julho para uma workshop sobre avaliação qualitativa de comportamento – Qualitative Behaviour Assessment ou QBA como se tem tornado mais conhecido o método desenvolvido por Françoise Wemelsfelder. 

Françoise Wemelsfelder doutorou-se em etologia na Universidade de Groningen em 1993, num estudo sobre tédio em animais. A escolha de tema foi corajosa e pouco convencional, características que têm marcado todo o trabalho da etóloga. Investigadora do Scottish Rural College desde há mais do que 10 anos, tem dedicado a maior parte da sua carreira até data ao desenvolvimento de um método para avaliar o estado emocional de animais.

O método QBA baseia-se na ideia da Françoise Wemelsfelder que o animal expressa o seu estado emocional ou disposição através da sua maneira de se movimentar, e que precisamos de observar o animal como um todo e não apenas quantificar por quanto tempo que ele executa um comportamento ou outro. QBA difere dos habituais testes de comportamento em que o investigador recorre a um painel de observadores para recolher dados sobre o comportamento do animal em estudo. Portanto, o observador não quantifica o comportamento do animal diretamente mas antes a interpretação dos observadores. Estes podem observar o animal diretamente ou através de gravações de vídeo, e dar uma pontuação às diferentes características do animal. A pontuação pode ser numérica e seguindo uma escala pré-estabelecida, ou em alternativa os observadores podem atribuir as suas próprias descrições. Trata-se de descrever os animais em termos de características como ‘nervoso’, ‘curioso’, ‘ansioso’, ‘agitado’, ‘relaxado’, ‘irritado’ etc.

A ideia é que esta é uma abordagem integrativa que permite reunir mais informação do que simples quantificações de comportamento. Nas palavras da investigadora:
The qualitative assessment of behaviour is based upon the integration by the observer of many pieces of information that in conventional quantitative approaches are recorded separately, or are not recorded at all. This may include incidental ehavioural events, subtle details of movement and posture, and aspects of the context in which behaviour occurs. In summarizing such details (...) qualitative behavioural assessment specifies not so much what an animal does, but how it does it. (Wemelsfelder et al 2001 Animal Behaviour 62, 209-220.)
O método foi inicialmente visto com muito ceticismo por parte de investigadores habituados a usar métodos quantitativos e que não envolvem uma componente subjetiva. Françoise Wemelsfelder e os seus colaboradores têm investido muito trabalho em demonstrar a capacidade do método de gerar resultados que podem ser repetidos, e mais recentemente em valida-los versus outros indicadores de bem-estar animal.

Françoise Wemelsfelder vem a Portugal no âmbito do projeto AWIN – Animal Welfare Indicators. A workshop tem lugar dia 18 na Faculdade de Medicina Veterinária em Lisboa, com inscrição gratuita mas obrigatória, para psianimal.geral@gmail.com.

3 comentários:

  1. No início da apresentação da Françoise em Lisboa (e durante grande parte da mesma), confesso que estava bastante céptico relativamente a esta metodologia, uma vez que o grande nível de concordância encontrado entre observadores poderá apenas significar que antropomorfizamos os animais na mesma medida. Assim, classificar o bem-estar dos animais através da sua observação recorrendo aos termos previamente seleccionados de uma lista originária de leigos na matéria poderia induzir ao erro. Contudo, ao apresentar a correlação da classificação pelo QBA com parâmetros fisiológicos e comportamentais quantitativos e já validados, começou esta metodologia a granjear maior credibilidade.
    O George Stilwell também abriu mais os horizontes, ao mostrar que um bom veterinário, sem o saber, usa sempre o QBA para avaliar a condição geral do animal ("doente/saudável", "activo/passivo", etc.) antes de passar a uma análise posterior mais cuidada.
    Se pensarmos bem, o nosso passado como caçadores-recolectores poderá ter aprimorado a capacidade de identificar a condição geral dos animais mais frágeis (enfermos ou feridos) numa manada. Para além disso, podemos conjecturar um cenário em que a nossa co-evolução com os animais domésticos poderá ter exercido alguma pressão selectiva no sentido de conferir vantagem evolutiva aos animais cuja sintomatologia poderíamos identificar e tratar.
    Em suma, ainda que não completamente convertido ao QBA, estou muito curioso relativamente a futuros desenvolvimentos nesta área, e penso que poderá vir a acrescentar algo à avaliação do bem-estar animal, usado a par com outras abordagens.

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  2. Tive muita pena não poder estar presente. Sabem quais as melhores referências para obter informações sobre este método(além dos artigos originais)?

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    Respostas
    1. Infelizmente, que saiba não existe nenhum artigo que resume a experiência do QBA ou capítulo que apresenta o metodo em si em mais detalhe.

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